IN Y(OUR) SHOES #2 - BEST YOUTH
Notícias

05 Julho 2022

IN Y(OUR) SHOES #2 - BEST YOUTH

IN Y(OUR) SHOES #2 - BEST YOUTH

Estamos de volta com a segunda edição da rúbrica In Y(our) Shoes, onde nos sentamos à conversa com personalidades das mais diversas áreas, incluindo moda, música, arte, design, entre outras, para sabermos um pouco mais sobre eles e a sua relação com o calçado e a moda em geral. Para a segunda entrada nesta série, mantemo-nos no universo musical e convidámos os Best Youth a juntarem-se a nós.


Fundados em 2011, os Best Youth são uma dupla formada por Ed Rocha e Catarina Salinas, cuja sonoridade pode ser descrita como um encontro entre o indie rock eletrónico e o dream pop. Estivemos à conversa com ambos para descobrir um pouco mais sobre o universo de uma das bandas portuguesas com mais hype do momento. 



A: Olá Ed e Kate, antes de mais muito obrigado por terem aceite o nosso convite, é um prazer termos a oportunidade de conversarmos um pouco convosco, especialmente agora que a vossa agenda fica cada vez mais preenchida com o regresso aos concertos ao vivo. Como tem sido esse regresso aos palcos após quase 2 anos de pandemia? Imaginamos que saudoso de ambas as partes?


Ed: Estavamos a morrer de saudades! Felizmente ainda conseguimos fazer alguns concertos durante a Pandemia mas finalmente voltamos a poder ver as caras das pessoas na plateia, foram 2 anos a ver máscaras.


A: Os sucessivos lockdowns impactaram-nos a todos, mas poucos terão sido tão afetados como os músicos. Mesmo assim, vocês lançaram um single incrível no ano passado (o Rumba Nera) e acabam agora de apresentar um novo (Cool Kids). De que forma é que conseguiram manter esse processo criativo e a sanidade mental durante esse período?


Ed: Não foi uma fase fácil… foi a primeira vez desde que começamos a fazer música que nos vimos impedidos de estar fisicamente no mesmo espaço. No início da pandemia e durante o primeiro ano foi-nos praticamente impossível avançar em trabalho de composição porque não conseguimos entrar no mindset certo à distância. A nossa forma de combater isso foi aproveitar para fazer uma pausa e “dissecar” músicas de artistas que admiramos. Chamamos a isso “video letters”: todas as semanas eu gravava um instrumental e punha no instagram, as pessoas iam tentando perceber que canção era e entretanto a kate respondia-me com um vídeo a cantar. No final da semana mostrávamos o resultado e foi um exercício criativo mesmo engraçado!


Kate: Tal como diz o Ed, não foi fácil, no início estávamos relutantes em pôr o que quer que fosse cá fora. Primeiro porque seria a primeira vez que trabalharíamos à distância, e essa foi uma dinâmica que tivemos de perceber na altura como poderia funcionar melhor, assim como tantos outros artistas na mesma situação! Segundo, sinceramente achávamos que, sem concertos, as coisas acabariam por perder o seu lugar e desaparecer e quando a nuvem levantasse, o disco ou singles lançados poderiam estar “fora de prazo” para entrar na corrida! Com base nestas duas premissas, achámos que o que poderia ser melhor para todos, nós e público, era uma rúbrica de pequenas cartas musicais, às quais chamámos de Video Letters, onde pudessemos “conversar” um com outro e, de certa forma, voltar um pouco àquilo que nos juntou como amigos e banda, a música, neste caso de outros ;) Foi um desafio que se revelou altamente curandeiro, e que nos deu grande prazer em fazer.


A: Pegando ainda no Rumba Nera, parece ser claro que marca uma mudança na vossa sonoridade, na medida em que incorpora uma série de influências às quais não estávamos acostumados a ouvir da vossa parte. Foi um processo normal de experimentação ou um “Grito do Ipiranga” no seguimento do período mais melancólico que atravessámos? Vocês falam até em “Rumba Nera” como sendo um lifestyle certo?


Ed: Nós tentamos que cada disco seja diferente do anterior em termos de timbres e instrumentos usados. A Rumba Nera tem uns apontamentos de percussão latina que andamos os dois a ouvir bastante e, na sequência de um outro projecto de composição em tive que ir ouvir as Goldberg variations do Bach, tentamos meter um Harpsichord com uma uma abordagem melódica mais barroca e ver de que forma isso encaixaria numa canção pop. Não diria lifestyle, mas a canção fala de uma realidade que vivemos todos um bocadinho hoje em dia nas redes sociais: é impossível não comparar as nossas vidas com as vidas dos outros… a canção foi composta do ponto de vista de um utilizador hipotético que se deixa afectar um bocado demais por isso.


Kate: Subscrevo o que o Ed diz mas acrescento que em vez de ser um “lifestyle”, a Rumba Nera é mais uma dança que fazemos todos os dias ao viajar pelas redes sociais, uma dança com uma série de passos que se intrincam à medida que o scroll avança, é um jogo de cintura, em que tu decides ao que te queres adaptar, para bem ou para mal… É um desabafo.


A: Apesar de trabalharem com outros artistas, inclusive com o Moullinex que tivemos o prazer de receber anteriormente, os Best Youth são vocês os dois. Sabiam desde o início que era essa a dinâmica que queriam estabelecer ou foi algo que surgiu naturalmente, fruto da vossa amizade e entrosamento musical?


Ed: Surgiu naturalmente. Nós tivemos uma banda antes dos Best Youth que era um trio e que eventualmente acabou. Depois de andarmos uns tempos cada um para seu lado eu pus-me a fazer um disco e convidei a Kate para vir gravar umas músicas. A coisa foi tão natural que percebemos logo que devíamos fazer um disco juntos. Isso foi em 2010/2011 e dura até hoje. Olhando para trás (e para frente), a nossa dinâmica é uma coisa tão própria que ia ser muito difícil encaixar outras pessoas no “core” do que é a banda, mas gostamos muito de colaborar com outros artistas.


A: São amigos desde a adolescência e criam música em conjunto desde então. Há uma separação entre o mundo pessoal e profissional? Quando escrevem ou produzem algo novo, é um ambiente tipo “having friends over” ou há uma mudança grande de mindset?


Ed: É complicado separar, pelo menos para mim. Não existem dias de folga, nem a minha cabeça consegue “desligar” ao final do dia. Nós além de trabalhadores independentes também somos uma banda independente, ou seja, há sempre coisas para fazer e não existe aquela coisa do “agora só segunda-feira quando chegar ao escritório”. No fundo é um meio termo entre mundo profissional e pessoal. O ambiente, para bem e para mal, é maioritariamente relaxado, mas vamos para o estúdio trabalhar todos os dias e claro está, há alturas em que o mindset tem que ser mais incisivo, principalmente quando há prazos envolvidos.


Kate: Concordo com o Ed, é complicado separar, até porque quando te envolves num projecto que é criativo, o teu lado pessoal está sempre presente. Claro que hoje em dia um artista, sendo independente, tem mais do que as funções criativas que o distinguem, e nesse sentido, o lado profissional ganha um papel preponderante e ser-se artista acaba quase por ser uma empresa onde se desempenham diferentes e variadas funções, que sem a disciplina do profissionalismo, seriam impossíveis de realizar. É seguro dizer queo profissionalismo do Ed, é mais apurado que o meu, tenho muita sorte em poder partilhar esta empresa com o meu melhor amigo e a sua eloquência ;) Quando estamos a trabalhar na nossa música, o mindset muda claro, e tem de mudar, quando fazes algo que é tão subjectivo e pessoal como a música, não podes ser corporativo, tens de ser humano, obviamente, que não é um convívio descomprometido entre amigos, porque é um trabalho, mas também não é uma reunião na sala de conferências para decidir as estratégias.




A: Vocês são atualmente uma das bandas portuguesas com maior reconhecimento quer a nível nacional, quer internacional e mais uma prova do crescente nível da “cena musical portuguesa”. Nesta década de existência sentem que o público português começou a valorizar
mais a música nacional?


Ed: Acho que estão várias coisas diferentes a acontecer, muito por causa das dinâmicas das grandes redes sociais e da forma como os algoritmos funcionam. Sinto que por um lado a música nacional está mais saudável do que alguma vez esteve, com muitos artistas e bandas de excelente qualidade e imensos géneros diferentes, cada um com as suas tribos e nichos que os vão sustentando, mas sinto que há muito público que não descobre esses artistas porque estão fechados numa bolha algorítmica que só lhes mostra coisas em que houve um investimento promocional gigante para contornar e controlar os referidos algoritmos. Na verdade a indústria da música sempre foi um bocado assim, mas em 2022 com o acesso instantâneo a tudo e mais alguma coisa na ponta dos dedos, é pena que grande parte do público esteja condicionada por factores externos a não conhecer melhor a quantidade de talento que temos por cá.


A: Quais são os vossos próximos projetos como Best Youth? Sabemos que são super atentos a novas tecnologias... metaverso, nfts, são coisas que vos atraem?


Ed: Eu sou um bocado nerd por isso estou sempre atento a essas questões. Em relação ao metaverso e NFTs, embora o meu entusiasmo inicial tenha sido grande, confesso que estou um bocado desiludido com a direcção que a coisa está a tomar. Não sei se é algo que veio para ficar muito tempo ou não, mas neste momento já não reflecte praticamente nada do que me entusiasmou no início. Lançámos NFTs no ano passado e isso ajudou a perceber como funciona todo o contexto à volta da coisa. Continuo interessado e a ver oque acontece, mas um bocado mais de fora. Na verdade, mais do que evolução tecnológica, acho que precisamos de uma evolução em termos de consciência por parte do público de como todos esses sistemas funcionam. Estamos a falar de música mas podíamos estar a falar de comida, roupa, ou de outra coisa qualquer. Os algoritmos podem ser bons ou maus, justos ou injustos, depende dos interesses de quem os programar e neste momento não me parece que se esteja a caminhar na melhor direção.


A: Abordando agora a vossa relação com a moda, é notório que a vossa imagem é cuidada e pensada ao pormenor. Têm uma estética muito própria, que casa perfeitamente com a vossa sonoridade. Há distinção entre o que usam em palco e no vosso dia a dia, ou é uma extensão?


Kate: É uma extensão daquilo que usamos no dia-a-dia. Ambos pensamos na moda e na estética em geral como parte das nossas personalidades, é algo que nos é natural, portanto apresentamo-nos em palco de uma forma e depois, no dia a dia, estarmos vestidos de outra completamente diferente, seria anti-natura para nós. Está tudo relacionado, a música que fazemos, a forma como pensamos, as roupas que vestimos, tudo se conjuga na mensagem que queremos passar de nós como banda e de nós como artistas individuais.


A: Qual dos dois é o mais vaidoso? Quem espera por quem antes dos concertos?


Ed: Essa é fácil! Acho que em 11 anos de carreira a Kate nunca teve que esperar por mim para entrar em palco :D…


Kate: Contra factos não tenho argumentos ;)


A: Qual o papel da moda na vossa vida? É algo mais utilitário ou um veículo de expressão?


Ed: Eu acho que é sempre um veículo de expressão. Acho que as pessoas que dizem que não ligam a roupa se estão a enganar a elas próprias. Geralmente quando dizem isso querem dizer que gostam de vestir de forma simples, discreta e “utilitária” mas… guess what: isso só por si já é uma forma de expressão, é uma forma de sinalizar à própria tribo “colegas que não usam roupa como forma de expressão, eu sou como vocês!”. Mas voltando à pergunta, há uma grande componente utilitária na minha forma de vestir. Não gosto de perder tempo a escolher roupa por isso encaro o meu guarda-roupa como uma série de uniformes que se complementam com uma ou outra peça mais especial. 


Facilmente um dia passaria a ser uma daquelas pessoas que escolhe um modelo de fato, compra em todas as cores em triplicado (e o dobro disso em preto) e está resolvido.


Kate: Sem dúvida um veículo de expressão. No meu caso desde pequenina, muito por culpa da minha mãe e do seu trabalho (digo isto no melhor sentido possível). Para ela, a moda é uma extensão da sua pessoa, sem ela, é como se falasse outra língua, como se, de certa forma, deixasse de ser compreendida! Essa maneira de estar e esse valor foram-nos incutidos desde muito cedo, não de um jeito fútil, mas sim de uma forma educativa, em como nos diferenciar numa sociedade que promove muitas das vezes uma igualdade conformista que passa por um uniforme que não cabe nem tem de caber a todos. Somos todos seres individuais antes de funcionarmos em colectivo e a melhor forma de contribuir para uma colectividade que está em constante evolução é através da liberdade de expressão, seja na música, no nosso caso, ou na moda, neste caso. Para mim seria impossível acordar de manhã e não pensar naquilo que quero vestir, o meu estado de espírito é quem dita e ele é um pouco diferente todos os dias ;)


A: Ao nível do calçado, sabemos que o Ed é fã incondicional de botas e tu Kate, algum modelo sem o qual não consigas viver?


Kate: Sapatilhas, desde sempre, adoro todos os tipos de calçado e usufruo de todos um pouco dependendo do contexto, mas as minhas tilhas, ninguém me pode tirar ;)


A: O que valorizam mais quando compram um novo par de calçado?


Ed: Podem-me destruir os pés, mas se gostar de me ver com um par sou capaz de o usar todos os dias e lidar com o sofrimento.


Kate: O primeiro impacto é sempre o visual mas se os calçar e eles forem altamente desconfortáveis, por mais bonitos e por mais pinta que tenham, ficam na prateleira.


A: Quando vos convidámos a escolher um par da nossa coleção, o Ed escolheu umas CAP e a Kate umas Bozelady. O que é que vos atraiu em cada um desses modelos?


Ed: Eu sou muito esquisito com sapatilhas. Tendo muito para modelos monocromáticos , principalmente brancos! Estas em particular gostei do facto de serem feitas com materiais reciclados. Tenho alguns pares em casa que já não uso, não estão em grandes condições para vender ou dar a alguém, mas que me faz confusão deitar fora. Lidava muito melhor se soubesse que havia um “plano” de fim de vida para elas. Para isso e para grande parte dos objectos que vou colecionando ao longo da vida.


Kate: Como sou uma pessoa petite e o tamanho dos meus pés não foge à regra, tenho sempre tendência a escolher sapatilhas que não façam com que os meus pés pareçam gigantes, não aprecio muito o conceito de gravidade, apesar de ter noção da sua importância, por isso, escolher modelos que me prendam ao chão, não vai acontecer ;) Gosto também de um tipo de design mais minimalista, talvez mais slick, que complemente e não ofusque o resto da indumentária, harmonia acima de tudo.



O novo single dos Best Youth, "Cool Kids" já está disponível online para ver e ouvir nas plataformas digitais. Podes descobrir mais sobre eles no site oficial, noYoutube e no Instagram


Fonte

Ambitious

Deixe o seu comentário sobre este artigo

O formulário foi submetido com sucesso.
Campo de preenchimento obrigatório.
Campo de email inválido
Campo com limite máximo de caracteres
Este campo não coincide com o anterior
Campo com limite mínimo de caracteres
Ocorreu um erro na submissão, por favor reveja o formulário.

* Campos de preenchimento obrigatório.

Por favor selecione um tamanho
Por favor selecione o material
Carregar